Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação
Autor:
André
Trigueiro,
Editora:
Globo Editora A obra reúne uma seleção de artigos, entrevistas e comentários do jornalista. Alguns dos principais temas da atualidade - aquecimento global, água, biodiversidade, consumo irracional dos recursos naturais, lixo, energia, meio ambiente nas cidades - aparecem em lugar de destaque, com a preciosa colaboração de especialistas convidados pelo autor para comentar os assuntos abordados. O livro apresenta soluções para vivermos num mundo auto- sustentável, procurando despertar a sociedade para a importância do debate de questões que estão intrinsecamente relacionadas ao modelo socioeconômico em que estamos imersos. Um bom exemplo do enfoque proposto por André é o capítulo a respeito do lixo, assunto que atinge a todos, que apresenta nitidamente o impacto de nossos hábitos cotidianos sobre o meio ambiente, e as perspectivas de uso inteligente dos resíduos como fonte de matéria-prima e energia. Cada leitor poderá identificar como, através de pequenas ações, podemos nos sentir agentes da mudança em favor de um mundo melhor e mais justo.
Naturalismo -Tendência das artes plásticas, da literatura e do teatro surgida na França na segunda metade do século XIX. Manifesta-se também em outros países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil. Baseia-se na filosofia de que só as leis da natureza são válidas para explicar o mundo e de que o homem está sujeito a um inevitável condicionamento biológico e social. As obras retratam a realidade de forma ainda mais objetiva e fiel do que no realismo. Por isso, o naturalismo é considerado uma radicalização desse movimento. Nas artes plásticas não tem o engajamento ideológico do realismo, mas na literatura e no teatro mantém a preocupação com os problemas sociais. Influenciados pelo positivismo e pela Teoria de Evolução das Espécies, os naturalistas apresentam a realidade com rigor quase científico. Objetividade, imparcialidade, materialismo e determinismo são as bases de sua visão de mundo. Características do naturalismo existem na França desde 1840, mas é em 1880 que o escritor Émile Zola (1840-1902) reúne os princípios da tendência em seu livro de ensaios O Romance Experimenta. Artes plásticas –A pintura dedica-se a retratar fielmente paisagens urbanas e suburbanas, nas quais os personagens são pessoas comuns. O artista pinta o mundo como o vê, sem as idealizações e distorções feitas pelo realismo para expor posições ideológicas. As obras competem com a fotografia. Em meados do século XIX, o grande interesse por paisagens naturais leva um grupo de artistas a se reunir em Barbizon, na França, para pintar ao ar livre, uma inovação na época. Mais tarde essa prática será adotada pelo impressionismo. Um dos principais artistas do grupo é Théodore Rousseau (1812-1867), autor de Uma Alameda na Floresta de L'Isle-Adam. Outro nome importante é Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875). O francês Édouard Manet (1832-1883) é um nome fundamental do período, fazendo a ponte do realismo e do naturalismo para um novo tipo de pintura que levará ao impressionismo. Ele retrata a realidade urbana sem muito da carga ideológica do realismo. Influencia os impressionistas, assim como é por eles influenciado. Fora da França destaca-se o inglês John Constable (1776-1837). Literatura –A linguagem dos romances é coloquial, simples e direta. Muitas vezes, para descrever vícios e mazelas humanos, usam-se expressões vulgares. Temas do cotidiano urbano, como crimes, miséria e intrigas, são usuais. Os personagens são tipificados: o adúltero, o louco, o pobre. A descrição predomina sobre a narração, de tal modo que se considera que os autores, em vez de narrar acontecimentos, os descrevem em detalhes. Acontecimentos e emoções ficam em segundo plano. O expoente é Émile Zola, autor de Nana e Germinal. Também são naturalistas os irmãos Goncourt, de Germinie Lacerteux. Teatro –As principais peças são baseadas em textos de Zola, como Thérèse Raquin, Germinal e A Terra. A encenação deste último constitui a primeira tentativa de criar um cenário tão realista quanto o texto. Na época, o principal diretor de peças naturalistas na França é André Antoine (1858-1943), que põe em cena animais vivos e simula um pequeno riacho. Outro autor importante do período, o francês Henri Becque (1837-1893), aplica os princípios naturalistas à comédia de boulevard, que ganha caráter amargo e ácido. Suas principais peças são A Parisiense e Os Abutres. Também se destaca o sueco August Strindberg (1849-1912), autor de Senhorita Júlia. NATURALISMO NO BRASIL–No país, a tendência manifesta-se nas artes plásticas e na literatura. Não há produção de textos para teatro, que se limita a encenar peças francesas. Nas artes plásticas está presente na produção dos artistas paisagistas do chamado Grupo Grimm. Seu líder é o alemão George Grimm (1846-1887), professor da Academia Imperial de Belas-Artes. Em 1884, ele rompe com a instituição, que segue as regras das academias de arte e rejeita a prática de pintar a natureza ao ar livre, sem seguir modelos europeus. Funda, então, o Grupo Grimm em Niterói (RJ). Entre seus alunos se destaca Antonio Parreiras (1860-1945). Outro naturalista importante é João Batista da Costa (1865-1926), que tenta captar com objetividade a luz e as cores da paisagem brasileira. Na literatura, em geral não há fronteiras nítidas entre textos naturalistas e realistas. No entanto, o romance O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo (1857-1913), é considerado o marco inicial do naturalismo no país. Trata-se da história de um homem culto, mulato, que vive o preconceito racial ao se envolver com uma mulher branca. Outras obras classificadas como naturalistas são O Ateneu, de Raul Pompéia (1863-1895), e A Carne, de Júlio Ribeiro (1845-1890). A tendência está na base do regionalismo, que, nascido no romantismo, se consolida na literatura brasileira no fim do século XIX e existe até hoje.
Realismo - Movimento artístico que se manifesta na segunda metade do século XIX. Caracteriza-se pela intenção de uma abordagem objetiva da realidade e pelo interesse por temas sociais. O engajamento ideológico faz com que muitas vezes a forma e as situações descritas sejam exageradas para reforçar a denúncia social. O realismo representa uma reação ao subjetivismo do romantismo. Sua radicalização rumo à objetividade sem conteúdo ideológico leva ao naturalismo. Muitas vezes realismo e naturalismo se confundem. Artes Plásticas – A tendência expressa-se sobretudo na pintura. As obras privilegiam cenas cotidianas de grupos sociais menos favorecidos. O tipo de composição e o uso das cores criam telas pesadas e tristes. O grande expoente é o francês Gustave Courbet (1819-1877). Para ele, a beleza está na verdade. Suas pinturas chocam o público e a crítica, habituados à fantasia romântica. São marcantes suas telas Os Quebradores de Pedra, que mostra operários, e Enterro em Ornans, que retrata o enterro de uma pessoa do povo. Outros dois nomes importantes que seguem a mesma linha são Honoré Daumier (1808-1879) e Jean-François Millet (1814-1875). Também destaca-se Édouard Manet (1832-1883), ligado ao naturalismo e, mais tarde, ao impressionismo. Sua tela Olympia exibe uma mulher nua que “encara” o espectador. Literatura – O realismo na Literatura manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o parnasianismo. O romance – social, psicológico e de tese – é a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e torna-se veículo de crítica a instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa. A escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas, tratados com linguagem clara e direta. Na passagem do romantismo para o realismo misturam-se aspectos das duas tendências. Um dos representantes dessa transição é o escritor e dramaturgo francês Honoré de Balzac (1799-1850), autor do conjunto de romances Comédia Humana. Outros autores importantes são os franceses Stendhal (1783-1842), que escreve O Vermelho e o Negro , e Prosper Merimée (1803-1870), autor de Carmen, além do russo Nikolay Gogol (1809-1852), autor de Almas Mortas. O marco inicial do realismo na Literatura é o romance Madame Bovary , do francês Gustave Flaubert (1821-1880). Outros autores importantes são o russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), cuja obra-prima é Os Irmãos Karamazov; o português Eça de Queirós (1845-1900), que escreve Os Maias; o russo Leon Tolstói (1828-1910), criador de Anna Karenina e Guerra e Paz; os ingleses Charles Dickens (1812-1870), autor de Oliver Twist, e Thomas Hardy (1840-1928), de Judas, o Obscuro. A tendência desenvolve-se também no conto. Entre os mais importantes autores destacam-se o russo Tchekhov (1860-1904) e o francês Guy de Maupassant (1850-1893). Teatro – Com o realismo, problemas do cotidiano ocupam os palcos. O herói romântico é substituído por personagens do dia-a-dia e a linguagem torna-se coloquial. O primeiro grande dramaturgo realista é o francês Alexandre Dumas Filho (1824-1895), autor da primeira peça realista, A Dama das Camélias (1852), que trata da prostituição. Fora da França, um dos expoentes é o norueguês Henrik Ibsen (1828-1906). Em Casa de Bonecas, por exemplo, trata da situação social da mulher. São importantes também o dramaturgo e escritor russo Gorki (1868-1936), autor de Ralé e Os Pequenos Burgueses, e o alemão Gerhart Hauptmann (1862-1946), autor de Os Tecelões. REALISMO NO BRASIL– No Brasil, o realismo marca mais intensamente a literatura e o teatro. Artes plásticas –Entre os artistas brasileiros, tem maior expressão o realismo burguês, nascido na França. Em vez de trabalhadores, o que se vê nas telas é o cotidiano da burguesia. Dos seguidores dessa linha se destacam Belmiro de Almeida (1858-1935), autor de Arrufos, que retrata a discussão de um casal, e Almeida Júnior (1850-1899), autor de O Descanso do Modelo. Mais tarde, Almeida Júnior aproxima-se de um realismo mais comprometido com as classes populares, como em Caipira Picando Fumo. Literatura –O realismo manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o parnasianismo. O romance é a principal forma de expressão, tornando-se veículo de crítica a instituições e à hipocrisia burguesa. A escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas, tratados com linguagem clara e direta. O realismo atrai vários escritores, alguns antes ligados ao romantismo. O marco é a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, que faz uma análise crítica da sociedade da época. Ligados ao regionalismo destacam-se Manoel de Oliveira Paiva (1861-1892), autor de Dona Guidinha do Poço, e Domingos Olímpio (1860-1906), de Luzia-Homem. Teatro –Os problemas do cotidiano ocupam os palcos. O herói romântico é substituído por personagens do dia-a-dia e a linguagem passa a ser coloquial. Entre os principais autores estão romancistas realistas, como Machado de Assis, que escreve Quase Ministro, e alguns românticos, como José de Alencar, com O Demônio Familiar, e Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), com Luxo e Vaidade. Outros nomes de peso são Artur de Azevedo (1855-1908), criador de comédias e operetas como A Capital Federal e O Dote, Quintino Bocaiúva (1836-1912) e França Júnior (1838-1890)
Germinal de Émile ZOLA; (livro sobre as condições de trabalho de uma mina
de carvão francesa, na década de 1860. A história culmina em greve dos carvoeiros.)
Germinal, filme dirigido por Claude Berri (1981), baseado na obra de Emile Zola. A história se passa no vilarejo carbonífero francês de Deux-Cent-Quarante, onde fica a
mina de Voreux. E é para onde o mecânico Etienne Lantier se dirige, atrás de tarbalho. Fica amigo da família Maheu. Pai, mãe e sete filhos. Gosta da filha mais velha, Catherine, de 15 anos. Tanto ela, como o pais e os irmão em idade produtiva trabalhavam na Voreux. Catherine tem um namorado, Chaval. Elemento tosco. O pagamento é quinzenal. Por produtividade. Em média 30 soldos. Um soldo equivale a 1/20 avos do franco francês. Vivem na vila da empresa. O carvão era retirado do subsolo em vagonetes. Com o perigo de desmoronamentos e explosões, pelo acúmulo do grisu. Era um
ambiente de extrema tensão. Os superiores eram Dansaert, o capataz e Négrel, o engenheiro. A fome e as demais privações eram comuns naquele ambiente miserável. Etienne se apaixona por Catherine. Mas não se revela. Há o líder sindical chamado Boa-Morte. Sujeito inoperante que prontamente desperta a antipatia de Etienne. Há um ambiente de insurgência contra as condições laborais. Estofado pelos ideais comunistas. Mesmo assim, a miséria não atinge a alma da maioria dos mineiros. Vide que as moças ainda conseguem ânimo para se embelezarem para os passeios de sábado. Etienne faz amizade com um polonês chamado Suvarin. Versado nos princípios comunistas. Surge aí a idéia de uma caixa de previdência com vistas a um maior poder de barganha frente aos capitalistas. Etienne se muda para a
casa dos Maheu. Dorme na mesma cama em que dormem Catherine e uma irmã. Eram apenas dois cômodos. Há uma crise no mercado
mundial de carvão. A mão-de-obra é ainda mais desvalorizada. As condições de trabalho mantêm-se péssimas e
ocorre um acidente. Um dos irmãos de Catherine, Jeanlin, fica deficiente. Coxo. E isso significava duas mão à menos e uma boca à mais. Etienne fica mais atuante no sindicato, pois tem trânsito entre os mineiros. Ocorre uma greve parcial. É elencado ao status de líder sindical. Catherine vai morar com Chaval. É um duro golpe para Ethienne. Chaval se mostra um espancador, com surras freqüentes na mulher. Muitas delas em função dos ciúmes que sente de Etienne. Etinne toma Chaval como inimigo. As brigas serão constantes. Jeanlin, o irmão acidentado, parte para a criminalidade. Pequenos furtos. Os momentos de maior tensão ocorrem no interior da mina. Que ainda funcionava, pela parcialidade do
movimento. Há traidores no movimento. Chaval continua martirizando Catherine, de uma forma mais contundente. Eclode uma greve geral e com ela a fome e a miséria. Ocorre uma tentativa de invasão da casa dos proprietários, que ficava próxima à vila. Um destacamento de gendarmes é enviado para sufocar o movimento. Etienne agride Chaval, por mais uma surra. Mas Catherine volta para o agressor. O destacamento entra em conflito com os grevistas. Ocorrem mortes, entre elas a do velho Maheu, pai de Catherine. Chaval tenta matar Etienne. Sem sucesso. Etienne se muda para a casa dos pais dos Maheu. Catherine também volta, já que quem a proibira de entra lá está morto. Ficam mais próximos. Parece que ele está sendo correspondido. Mas não passa das intenções. O conflito repercute e a mina é reaberta com uma pequena melhoria salarial. Porém, as condições permaneceram precárias. E o clímax se dá com mais um desabamento. Os três ficam embaixo da terra por dias, em uma situação alucinante. Onde nem mesmo a morte eminente comove Chaval. Num ataque de fúria, motivado pelo comportamento do rival, Etienne o mata. Catherine se revela para Etienne e ocorre o primeiro e o único beijo. O socorro demora e somente ele sobrevive. O livro termina com Etienne indo embora à procura de outro emprego, talvez em outra mina. Um clássico da literatura mundial. Num ambiente de efervescência social e privações de toda sorte, ainda há espaço para o amor e para o sonho.
História escrita por Emile Zola, que para contá-la foi trabalhar em
uma mina de carvão na França, e descreve uma greve muito sangrenta, que praticamente marca o início do movimento operário. Começa com Etienne que chega à mina procurando emprego e conhece Boa Morte, assim chamado devido a inúmeras vezes que sobreviveu a acidentes na mina. Etienne fica muito amigo da família de Boa Morte, onde praticamente todos trabalham na mina, exceto as crianças menores e a mãe que precisa cuidar deles, como a maioria das famílias da região, pois quanto mais gente trabalhando mais dinheiro para comprar o pão, pois os salários são miseráveis. As condições de trabalho na mina são desumanas, sendo uma aventura diária ter de descer às suas profundezas. Etienne começa a incitar os operários a fazerem uma greve, e para isto decidem fazer um fundo de reserva, para não passarem fome durante o período da greve. Acontece, que este dinheiro arrecadado logo acaba, e com os patrões ameaçando demitir a todos e trazer outros trabalhadores para lá, alguns grevistas começam a querer retornar ao trabalho para não passarem fome, criando uma situação de mais tensão ainda.
Dias e Dias de Ana Miranda
O romance
Dias e dias (2002), de Ana Miranda, desde o seu começo, apresenta a voz da narradora Feliciana, hoje, uma mulher – que, desde menina, fora apaixonada por Gonçalves Dias (o grandioso poeta brasileiro!). Na obra, os fatos são apresentados em flashbacks e há o caráter cíclico da diegese – a narrativa inicia-se em 03 de Novembro de 1864 e ao final do livro nos deparamos com a mesma data, o que sinaliza para os anacronismos, ou seja, as constantes idas e vindas no tempo da narração. Sob o ponto de vista desta narradora em primeira pessoa do singular é recordada e relatada não apenas sua vida, como também a vida do objeto de seu amor – Dias.Os amantes de Gonçalves Dias, certamente, se deliciarão, pois Miranda, de maneira muito inteligente, insere em seu texto, além de poemas, muitas informações verídicas sobre o autor. Esta marca de intertextualidade faz da trama
um “mosaico de citações” por muitas vezes parodizadas. Isto, porque Ana Miranda utilizando os versos de Dias lhes dá um sentido distinto, o que faz com que, no mínimo, sua leitura deva ser dupla. Por meio dos poemas inseridos na narrativa de Dias e dias e da presença de correspondências que são trocadas dentro da diegese – as quais a autora teve acesso por meio de trabalhos rigorosos de pesquisa e consulta à arquivos – é composta uma espécie de fotografia de nosso país e as informações contidas no romance contribuem para a formação não só das características do poeta representativo de nosso país, como também de peculiaridades que dizem respeito à nossa pátria amada.Dias e dias, ratifica-se como uma bela e prazerosa obra de cunho histórico, mas, se o leitor não for atento, nem perceberá o tema maior, devido ao caráter de liricidade romanesco – a história envolvente de um amor platônico. Isto faz com que Dias e dias não seja apenas um romance histórico, mas uma magnífica biografia romanceada, feita nos moldes da ficção. Um romance envolvente que é organizado quase que, como um diário – a partir de sucessivos processos de rememoração de Feliciana. Ainda que toda a narrativa gire em torno de observações e declarações de Feliciana, isto é apenas um pretexto para que se fale do personagem maior, o poeta Gonçalves Dias. Como estratagema, Ana Miranda utiliza-se de um personagem fictício (Feliciana) para falar de um acontecido histórico. Porém, estes personagens históricos não protagonizam a diegese, servindo apenas como parte do cenário ou “pano de fundo”. Quem protagoniza a narrativa são os homens comuns – e, por ser mulher, a narradora Feliciana representa mais do que apenas uma pessoa comum. O fato de as ações serem protagonizadas por seres ficcionais faz com que a ficção fique muito à frente de um mero enfoque histórico.A proposta da diegese de Dias e dias diz respeito à leitura que o romance fornece da história, ou seja, abordar o momento brasileiro em que há a representação da mulher e do homem do século XIX que, via de regra, o recurso histórico não registrava – Miranda aborda, então, esses elementos que as enciclopédias históricas não abarcam. O olhar de Feliciana é dirigido para o cotidiano, isto é, para a história da condição feminina.
Adriana Falcão – A Maquina MUNDO NORDESTINO - A máquina é uma fábula que fala de amor, desencontros, encontros e tudo isso que já foi impresso em tantos livros. O grande nocaute do texto é, no entanto, sua narrativa. Tendo como cenário uma cidade imaginária, chamada de Nordestina - mas que qualquer pernambucano reconheceria como Recife -, Adriana fala de um lugar, onde ninguém mais quer ficar. As coisas só acontecem de Nordestina pra lá, o mundo passou a ser qualquer lugar, menos Nordestina. Nesse canto sem futuro acontece o amor entre Antônio e Karina. Ele só quer o amor dela. Ela quer isso, mas também quer o mundo. Disposto a não lhe negar nada, Antônio cruza os limites da cidade para trazer o mundo para Karina.
A Máquina acerta ao misturar ficção com romance A história de amor que já fez sucesso em livro e peça teatral acaba de virar filme em A Máquina, estréia do diretor pernambucano João Falcão. O livro foi escrito por Adriana Falcão, mulher do diretor, que adaptou e dirigiu o texto para a peça teatral. O espetáculo virou cult e revelou o talento de dois atores baianos, hoje famosos: Lázaro Ramos e Wagner Moura. No teatro, os dois fizeram o papel de Antônio, o protagonista, que no filme é defendido pelo novato Gustavo Falcão (sobrinho do diretor). No cinema, Ramos e Moura fazem apenas pontas, o primeiro como um louco internado num hospício, e o segundo como o apresentador de um programa de televisão sensacionalista. Uma surpresa no elenco é o veterano Paulo Autran, que raramente faz cinema nos dias de hoje. A história é ambientada na pequena cidade de Nordestina, típico lugarejo localizado no fim do mundo, onde ninguém quer ficar. Menos Antônio (Gustavo Falcão), rapaz sonhador, que só tem olhos para a menina que mora na outra rua, Karina (Mariana Ximenes). Karina, no entanto, também não vê a hora de sair dali. Quer ser atriz de televisão. Por isso, ensaia diariamente com Antônio e esta é a chance do rapaz de ficar bem perto de sua musa - que não repara o quanto ele está apaixonado. Mas chega o dia em que ela anuncia sua partida, rumo ao mundo dos sonhos. Antônio a faz ficar, em troca da promessa de que irá trazer esse mundo para ela. A maneira como ele cumpre essa promessa é engenhosa e não deve ser revelada para não estragar a graça de assistir ao filme. No final, Antônio promete, em um programa de TV, que viajará até o futuro. Emissoras de todo mundo deslocam-se para Nordestina para cobrir o evento, que tem uma série de conseqüências inesperadas. A Máquina acerta ao brincar com o tempo sem parecer infantil. Todo o artificialismo dos cenários e o uso da música são colocados a serviço da narrativa. É um filme surpreendente, no melhor sentido, também graças à qualidade da equipe técnica - especialmente Walter Carvalho na fotografia; Marcos Pedroso na direção de arte; Kika Lopes no figurino; a trilha sonora de Robertinho do Recife e Chico Buarque de Holanda (que compôs uma canção inédita Porque Era Ela, Porque Era Eu).
DISCURSO DO MÉTODO de RENÉE DESCARTES Resumo René Descartes não conseguiu fazer a união entre pensamento ( alma ) e sentimento ( corpo ). Descartes começa seu texto apresentando os grandes parâmetros de sua formação cultural. Aluno de uma das mais prestigiadas escolas européias, a Escola dos Jesuítas em La Flèche, pode receber o que de melhor tinha a ofertar a cultura de seu tempo. Estudou Lógica que considerava um interessante instrumento uma vez que estejamos de posse da verdade, mas que em nada auxiliava a obter a verdade; estudou Teologia, sabe importante sem dúvida, todavia dispensável, pois desde que tenhamos fé em Deus, nossa salvação estará assegurada; estudou Filosofia e, sobre essa, chegou a uma triste conclusão: a história da filosofia nos mostrava de que não existia nada de tão absurdo que já não tivesse sido afirmado alguma vez por algum filósofo. Em todas as disciplinas que estuda, a exceção da matemática, cuja aplicabilidade a problemas concretos somente se dará a partir e por causa de Descartes, constata ele que a cultura em geral não oferece nenhum saber que seja isento de dúvidas e útil para vida. Cabe portanto, concluir Descartes reformar o conhecimento e fundamentá-lo a partir de novas e sólidas bases. Tal é a tarefa que será delineada no Discurso do Método e buscada por toda a vida de Descartes.Para obter esse resultado, Descartes elabora um método que consta de quatro regras: 1) Não aceitar nada que não seja evidente e evitar a prevenção e a precipitação; 2) Dividir um problema em tantas partes quantas forem possíveis e necessárias, a chamada regra da análise; 3) Conduzir o pensamento por ordem, partindo dos objetos mais simples para os mais complexos, a chamada regra da síntese; 4) Efetuar enumerações tão completas de modo a ter certeza de nenhum elemento ter sido esquecido.Aplicando esse método aos objetos culturais, quais deles podem ser ditos tão evidentes que não possam ser colocados em dúvida? Todos os dados dos sentidos podem nos enganar; da mesma forma todos os objetos da razão igualmente o podem.... nada existe que seja dado ao homem que não posso ser posto em dúvida; todavia, se de tudo podemos duvidar, não podemos duvidar do fato de estarmos duvidando. Ou seja, em toda a dúvida está presente a certeza do sujeito que duvida; ora constata Descartes, se duvido pelo e, se penso logo existo. O conhecimento não deverá pois ser construído a partir de certezas externas, sempre falíveis, mas sim da única certeza indubitável, a certeza do Cogito.Certo, poderemos argumentar contra Descartes, mas e daí? Como sair da certeza do solipsismo para a certeza dos objetos do mundo? Analisando o que nos dá essa certeza inicial Podemos constatar que somos uma substância cuja essência consiste no pensamento, o que significa que que não existe uma união necessária entre o corpo e o espírito, já que é possível duvidar de que tenhamos um corpo, mas não uma razão pensante. Essa razão pensante, na medida em que duvida se descobre como imperfeita. Ora, nos diz Descartes, de onde vem essa idéia de perfeição? Não pode vir dos objetos do mundo na medida em que aí não a encontramos; não pode ter sido criada por nós, pois somos imperfeitos e, no entanto, a temos. Como se pergunta Descartes? Só pode ser uma idéia inata, impressa em nós por aquele que nos criou – Deus. Da existência de Deus, ser criador dotado de todas as perfeições, não é possível que nos enganemos sempre, pois aío ser perfeito teria criado algo absolutamente imperfeito. Logo, a única coisa que nos impede de conhecer a verdade é não procedermos de forma metódica.No Discurso do Método, Descartes parte da certeza inicial do sujeito pensante, nela descobre Deus como idéia inata, dai conclui a impossibilidade do erro absoluto e propõe como forma de superação a adoção das regras metodológicas Temos assim o saber fundado agora na subjetividade humana e não mais no ser. Quando for possível a essa subjetividade, e esse é o processo da evolução da ciência moderna, apenas com base em regras metodológicas constituir a verdade, deus se tornará desnecessário ao saber, sendo recolhida aos recônditos da subjetividade humana.Descartes abre assim o caminho para o desencantamento do mundo.
ALEGORIA DA CAVERNA - PLATÃO
Resumo
Imaginem a seguinte situação: homens aprisionados em uma caverna, desde a infância, tendo essa uma única entrada para a luz. Na posição em que estão, na semi-escuridão, eles só conseguem enxergar sombras projetadas pela luz que entra por detrás deles. Estas sombras mostram homens carregando objetos de variadas formas. Uns conversam entre si, outros apenas passam. Para estes prisioneiros, nestas condições, esta é a realidade do mundo.
Considerando que um deles fosse solto, sua primeira reação seria de dor, pelos anos de confinamento. Em seguida, ao alcançar o mundo externo, sua visão seria ofuscada pela súbita claridade. Mas, aos poucos ele se fascinaria com a descoberta, tendo dificuldades em julgar qual seria a verdadeira realidade. Com o tempo, ele começaria a se adaptar a essa nova realidade e compreendê-la. Ao lembrar de sua vida anterior, pensaria: - Prefiro viver e sofrer tudo novamente a retornar às ilusões de antes.
Caso este homem, agora consciente, resolvesse retornar à caverna, veria, num primeiro momento, apenas trevas. Mas, mesmo depois, teria dificuldade de distinguir as sombras que lhe eram tão familiares. Seus companheiros lhe diriam que sua ida ao mundo exterior havia arruinado sua percepção da realidade e, por isso, não valia a pena se arriscar numa jornada desconhecida. Se acaso fossem soltos e forçados a sair da caverna, tentariam agarrá-lo e o matariam, por não acreditarem que existisse outra verdade além da que conheciam.
Se considerarmos tudo que vemos sobre a face da terra como a caverna e, a luz que lá incidia como o sol que nos ilumina, podemos considerar que a descoberta de um outro mundo representa uma nova vida para onde as almas se elevam, mas só Deus sabe se ela é verdadeira. Tendo como base esta idéia do bem, que é criadora do mundo e senhora da verdade e da inteligência, precisamos nela crer para sermos sensatos na vida.